Foi em 1986 que, no caderno de turismo da Folha de São Paulo, tomei
conhecimento da existência da cidade paranaense de Guaraqueçaba, no canto norte
da baía de Paranaguá. Desde então, seja pelo
belo nome tupi (repouso dos guarás), seja por sua proximidade com a misteriosa
região do Lagamar, da qual faz parte, nunca mais deixei de sentir vontade de
conhecer a cidade e a região. E finalmente, em janeiro de 2013, era chegada a
hora de conhecer Guaraqueçaba!
A cidade fica localizada na parte mais isolada do entorno da baía de Paranaguá, distante das demais cidades da região (Antonina, Paranaguá e Morretes, além da turística Ilha do Mel), ligada a Antonina por uma única estrada de terra - 80 km - que normalmente se encontra em péssimo estado de conservação . Quando não simplesmente interditada por conta das chuvas ...
A cidade fica localizada na parte mais isolada do entorno da baía de Paranaguá, distante das demais cidades da região (Antonina, Paranaguá e Morretes, além da turística Ilha do Mel), ligada a Antonina por uma única estrada de terra - 80 km - que normalmente se encontra em péssimo estado de conservação . Quando não simplesmente interditada por conta das chuvas ...
Região
da Baia de Paranaguá
Chegamos à cidade no domingo 20 de janeiro,
segundo dia de uma viagem muito tranquila desde Porto Alegre.
Vista aérea de Guaraqueçaba
Ficamos no Hotel Eduardo, bem em frente à praça principal e centro histórico da cidade, em um apartamento com vista para a baía de Paranaguá.
Praça Central de Guaraqueçaba vista de nosso quarto de hotel.
Nosso caiaque aparece na parte inferior da foto, sobre a Doblô
Nosso caiaque aparece na parte inferior da foto, sobre a Doblô
Nos dois primeiros dias, aproveitamos para
conhecer a cidade caminhando, curtir a culinária local, ler um pouco e tirar
informações sobre a Ilha das Peças, que desejávamos circum-navegar em nosso
caiaque oceânico duplo Marajó. Foram dois dias de muito descanso, uma vez que
Guaraqueçaba é uma cidade muito tranquila e que passa a impressão de ainda ser
uma vila de pescadores. Não há muito que fazer naturalmente, a cidade não
dispõe de praia e o principal passeio para quem ali se encontra consiste em
contratar um barco a motor para ir até a Ilha do Mel ou até a ponta sul da Ilha
de Superagui, vizinha à Ilha das Peças. Para nós, a principal atração nestes
dias foi o grupo de golfinhos que vivia em frente à cidade, e que volta e meia
nadava em frente à praça.
Praça
central de Guaraqueçaba
A natureza embelezada!
Primeiro Dia da Circum-navegação
Partimos para circum-navegar a Ilha das Peças na quarta-feira, 23 de janeiro, pontualmente às 8 h. O dia estava
ensolarado como desejávamos. O primeiro
trecho de remada - cerca de 6,5 km - foi entre Guaraqueçaba e a entrada do
canal que separa o norte da Ilha das Peças do continente, quase em frente à
vila de Guapicu. Após uma hora de remo, paramos para descansar e fotografar numa
pequena ponta de areia que se projeta do mangue.
Parada para lanche antes de Guapicu
Nossa intenção era entrar no grande canal e começar a contornar a ilha em sentido horário. Entramos então no local, que em seguida mostrou-se muito raso. Por alguns minutos procuramos pelo canal de navegação que sabíamos existir, pois barcos a motor muito maiores que nosso caiaque navegam diariamente por ali. Não o encontrando, e cansados de rebocar o barco naqueles bancos de lama, saímos do local e voltamos à baía de Paranaguá, e resolvemos, então, contornar a ilha em sentido anti-horário. (Mais tarde, conversando com pescadores, viemos a saber que o canal de navegação é muito estreito e fica localizado bem próximo à margem da ilha onde fica a vila de Guapicu.) Durante o percurso, várias vezes tivemos a companhia de grupos de golfinhos, sempre uma atração especial.
Trajeto do primeiro dia (24 km)
A zona de mangue prossegue por mais 12 km, até se chegar à Vila das Peças, uma vila de pescadores. A partir daí começa uma faixa de areia larga e contínua que acompanha toda a ponta da ilha exposta ao oceano, interrompida ás vezes por pequenos riachos que dão na praia. Cerca de 5 km após a vila, tendo percorrido um total de 25 km, resolvemos procurar por um bom local para acampar, pois queríamos montar a barraca bem antes do anoitecer para poder curtir o local e a praia com vagar. Logo encontramos a foz de um riacho. Eram 17h00. Aquele não era o local dos sonhos, teríamos de acampar em cima de dunas e não havia árvores grandes para nos dar sombra, e sim um pouco de vegetação rasteira de praia. Mas havia fartura de água doce por perto, muito importante para que pudéssemos tomar um banho e tirar o sal do corpo para dormir confortavelmente. E uma bela vista!
Acampamento do primeiro dia
Montada a barraca e desembarcadas as tralhas, curtimos o fim da tarde caminhando um pouco pela praia. Tínhamos trazido um bom vinho argentino e aproveitamos para bebê-lo enquanto fazíamos nossa comida. Jantamos de frente para o mar. Terminamos o vinho olhando as estrelas, bem felizes. Mas muito cansados. Por volta das 21 h já estávamos na cama tontos de sono.
Riacho
Segundo Dia da Circum-navegação
Não dormimos muito bem porque,
às 2 da manhã, Maria Helena levantou com enxaqueca. Sentiu náuseas e acabou
vomitando. Em consequência, no dia
seguinte só conseguimos partir às 8h00. Cerca de 4 km depois, paramos para
descansar e avaliar as condições do mar no local onde um antigo farol de
concreto estava tombado sobre a areia
Farol tombado na praia
Em seguida começaria o trecho mais exigente da circum-navegação, um trecho de praia com surf. A maré baixa facilitaria a travessia do trecho porque o surf fica mais fraco, além de haver normalmente pouco vento nesse horário. Maria Helena decidiu seguir caminhando pela praia enquanto eu levava o caiaque, remando além da zona de rebentação. Por mais que tentasse me acompanhar em sua caminhada, ela ficava constantemente para trás e por isso eu parava de vez em quando para esperá-la.
Trieste
partindo
Após 40 minutos de caminhada puxada e remada muito tranquila, nos reencontramos na extremidade da Ilha das Peças que fica em frente à ponta sul da Ilha de Superagui, onde paramos por meia hora para apreciar o local e descansar um pouco. Atravessamos de barco para Superagui, onde existem algumas pousadas simples e bares. Paramos em um deles, pedimos cerveja e aproveitamos para comer nosso lanche. Este é o local da região mais procurado por turistas e veranistas vindos de barco desde as cidades de Antonina, Paranaguá e da própria Guaraqueçaba.
No
bar em Superagui
Praia de Superagui. Ilha das Peças ao fundo
Após um bom descanso, e bem alimentados, partimos e logo ingressamos no largo braço que separa a Ilha das Peças da Ilha de Superagui. Após uns 5 km, recomeçou a zona de mangue, de modo que não tínhamos muitas opções de locais onde parar.
Percurso do segundo dia (25 km)
Acabamos parando numa pequena praia de um pitoresco vilarejo chamado de Rancho de Superagui, na ilha homônima.
Parada
em Rancho de Superagui
Após o descanso e as fotos de praxe, atravessamos
para o outro lado e prosseguimos costeando a Ilha das Peças até chegar à vila
de Bertioga. Trata-se de uma vila muito extensa
- mais de 2 km - e muito estreita (praticamente todas casas encontram-se
em uma faixa de 50 m de largura na costa da ilha).
Após percorrermos, remando, uns 500 m ao longo da cidade, acabamos
encontrando uma residência de veranista com uma rampa de acesso à água, e que
estava desocupada. Eram 17 h e, enquanto curtíamos a paisagem, resolvemos
esperar para ver se alguém apareceria para nos expulsar do local. Já no fim da
tarde, ninguém tendo aparecido, montamos a barraca e começamos a fazer o rango.
Havia água potável e uma pia fora da casa. Nossa barraca tinha vista para a
água e estávamos muito contentes com o local. Foi aí que apareceu um rapaz que
parecia ser uma espécie de caseiro. Muito simpático, foi logo avisando que
poderíamos acender a lâmpada do poste do quintal da casa. Maravilha! Teríamos
luz e não seria preciso usar lanternas de cabeça enquanto fazíamos a comida.
Depois do jantar, tomamos um banho e vestimos roupas secas. Estávamos muito
felizes, o dia havia sido ótimo. Não
tínhamos mais vinho, por isso fui até o centro da vila e consegui comprar duas
cervejas geladas para comemorar o fim de um dia tão gostoso. Mas o cansaço
cobrou seu preço e às 9h30 já estávamos na cama.
Levamos 2 horas para chegar á vila de Tibicanga, já na costa norte da Ilha das Peças. Era para termos levado a metade deste tempo não tivéssemos feito uma parada para lanche e fotos, e gasto quase meia hora na foz de um rio que confundimos com a entrada que deveríamos pegar para Tibicanga. O local é muito raso e a todo instante encalhávamos em bancos de lama. Finalmente conseguimos achar o estreito canal de navegação graças a um bando de golfinhos que nadavam nele atrás de algum cardume. Um dos golfinhos inclusive chegou a encalhar na margem do canal, debatendo-se por alguns instantes até se safar.
De volta ao braço principal, encontramos dois
pescadores em uma lancha que nos indicaram o caminho correto até Tibicanga. Lá os reencontramos para um bom papo. Eles
então nos indicaram um caminho alternativo para Guaraqueçaba, por dentro do
mangue em vez de ir contornando a costa da Ilha das peças, como era nossa intenção
original. Acabamos acatando a dica, tamanhos os elogios que os dois faziam
sobre as belezas do trajeto. Ledo engano! Além de paisagisticamente monótono, o
mangue não oferecia nenhum lugarzinho sequer para desembarque. Ainda por cima
estava infestado de mosquitos e, ainda pior, de mutucas, muitas mutucas! Nunca
tinha visto algo assim: mutucas que nos perseguiam mangue adentro mesmo quando
remávamos a 6 km/h, tentando pousar sobre nossas camisetas e nos morder através
do tecido fino! Os últimos quilômetros, naturalmente, foram rapidamente
percorridos e quando menos esperávamos, virando uma curva, de repente avistamos
Guaraqueçaba ao longe. Mais meia hora de remo e chegávamos à cidade. Eram
apenas 16 h quando desembarcamos, com a maré alta, na rampa da praça central. Crianças
brincavam animadamente na minúscula faixa de areia junto à rampa. Do outro lado
da praça há um bar chamado Mercearia Rodrigues, para onde fomos tomar umas cervejas antes de
descarregar as tralhas. Um sonho realizado!
Percurso total (71 km)
Chegando
a Bertioga
Acampamento do segundo dia |
Vista
a partir da nossa barraca
Terceiro Dia
da Circum-navegação
A noite desta vez foi muito bem
dormida. E o dia, mais uma vez, amanheceu promissor. Só conseguimos embarcar às
9h30, por conta das do leito de lama exposto pela maré baixa, que dificultou
bastante o transporte das tralhas até o barco.
Preparando
a partida no terceiro dia. A dama da lama!
Levamos 2 horas para chegar á vila de Tibicanga, já na costa norte da Ilha das Peças. Era para termos levado a metade deste tempo não tivéssemos feito uma parada para lanche e fotos, e gasto quase meia hora na foz de um rio que confundimos com a entrada que deveríamos pegar para Tibicanga. O local é muito raso e a todo instante encalhávamos em bancos de lama. Finalmente conseguimos achar o estreito canal de navegação graças a um bando de golfinhos que nadavam nele atrás de algum cardume. Um dos golfinhos inclusive chegou a encalhar na margem do canal, debatendo-se por alguns instantes até se safar.
Terceiro
dia (22 km)
Una morrocha en Guaraqueçaba ...
Percurso total (71 km)
Que maravilha de lugar para remar! E que bela descrição, acompanhando as lindas imagens!!! Vendo a postagem, realmente dá vontade de conhecer esse tranquilo paraíso!!!
ResponderExcluirValeu Leonardo. Essa é a proposta do blog mesmo, despertar a vontade de remar por lugares assim.
ResponderExcluirTrieste
Ola, o hotel Eduardo I tem Pscina?
ResponderExcluirDeslumbrante
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