domingo, 26 de maio de 2013

Construindo um Caiaque de Madeira – Primeira Parte

       Há tempos eu tinha vontade de construir um caiaque oceânico de madeira, mas tinha também grandes receios de enfrentar uma empreitada dessas por não possuir muita experiência em marcenaria. Até que, em 2012, o amigo Leonardo Esch manifestou interesse na construção de um barco do tipo. A ideia foi amadurecendo em conversas. Decidimos, de início, que a técnica empregada seria a de Stitch-and-Glue, termo que pode ser traduzido como “alinhavar e colar”. Começamos o projeto consultando o livro The New Kayak Shop: More Elegant Wooden Kayaks Anyone Can Build, obra de referência no gênero escrito por Chris Kulczycki (2000). Embora seja muito bom livro, o próprio autor recomenda que se adquiram as plantas para uma empreitada dessas. Seguindo seu conselho, e depois de muito consultarmos sites de fábricas de caiaque de madeira na internet, decidi comprar as plantas do modelo Bluefin 18, um caiaque oceânico simples de 18 pés multi chine projetado e fabricado pela firma norte-americana Shearwater Boats. Além da disponibilidade da planta para venda pela internet, trata-se de um barco veloz, com boa capacidade de carga, boa estabilidade inicial (repare em quão achatado no fundo é o casco) e ótima estabilidade secundária, além de prover conforto para os pés de uma pessoa de altura mediana e ter um casco bonito (por ser multi chine). Pois beleza sempre é importante tchê! Apesar de não ser a escolha sua, o Esch decidiu construir o mesmo modelo, especialmente pela disponibilidade de uma planta.

Bluefin Lines

Um Bluefin terminado

        As plantas chegaram no início de dezembro de 2012, mas em virtude de compromissos de fim de ano e de férias no início de 2013, a construção do barco teve início efetivamente em 14 de maio deste ano. Neste dia, tratamos de cortar longitudinalmente as folhas de compensado naval (espessura de 4 mm de espessura, com dimensões 2,5 m x 1,6 m) em duas metades. Em seguida, 3 dessas metades foram unidas ao comprido de modo a formar uma única chapa com 7,5 m de comprimento. Isso para cada caiaque. A técnica empregada para unir as chapas foi a de scarf joints, e a cola usada foi araldite comum. 

        Dois dias depois, com a cola já bem seca, os desenhos dos 4 pares de painéis que compõem o casco de um caiaque foram transferidos das plantas para a chapa de compensado, perfurando-se o papel sobre a chapa com um prego médio, ao longo das linhas dos desenhos, a cada 5 cm de distância. 

     O terceiro dia de trabalho se deu na quinta-feira da semana seguinte. A tarefa então foi cortar os desenhos nos painéis, o que só foi finalizado no sábado seguinte, quarto dia de trabalho. Eu fiz os cortes usando uma serra tico-tico elétrica, enquanto o Esch fez os seus usando um serrote japonês especial (razorsaw) que ele havia adquirido na Argentina e que só corta em um sentido do movimento. Ao final do trabalho de corte, pudemos concluir claramente que os cortes feitos com o serrote haviam ficado muito melhores, e que vale à pena usar um serrote como este em vez de uma serra elétrica, apesar do tempo maior desprendido. 

         Com isso, o Esch ficou atrasado em relação a mim. Todavia, no quarto dia de trabalho, a situação se inverteria. A etapa seguinte consiste em chanfrar as linhas de corte e demanda um tempo razoável, cerca de 2 horas, para ser concluída. Enquanto eu fazia este trabalho, o Esch terminara seus cortes com o serrote e resolveu então pular a etapa de chanfradura dos paineis. A etapa seguinte consiste em alinhavar os 5 paineis duplos que compõem o casco, o que é feito usando-se pedaços de fio de cobre grosso (que em etapa futura serão retirados). Ele conseguiu alinhavar todo o casco de seu barco, ao passo que eu apenas consegui alinhavar os dois primeiros painéis, compondo a quilha do futuro barco. Já eram 20h30 quando terminamos os trabalhos. As fotos abaixo mostram como ficou o resultado. Esses 4 dias de trabalho totalizaram cerca de 28 horas.

         O Esch já havia escolhido o nome de seu barco. Ele se chamará CUPIM, nome bastante sugestivo, diga-se de passagem. Levei mais alguns dias para decidir qual será o nome do meu: TARAQUÁ. (Eis uma palavra tupi que precisaria de um finado trema, pois sua pronúncia correta é taracuá). Trata-se de um termo tupi que, de acordo com a obra Glossário Etimológico Tupi-Guarani, de Leon F. R. Clerot (Edições do Senado Federal, volume 143), significa “aquele que é veloz”. Também é o nome de uma formiga-de-fogo da Amazônia danada! E como toda formiga da Amazônia, gosta e se dá bem com água. Para mim, porém, havia uma razão muito especial na escolha do nome. Pois Taraquá também é o nome de uma linda (sem exagero) cidadezinha do estado do Amazonas às margens do rio Uaupés, um dos principais formadores do rio Negro. Conheci a cidade em julho de 1973 - e me apaixonei – durante uma viagem de alunos do Colégio Salesiano do Carmo, em Belém, PA, onde nasci. Foi uma viagem inesquecível e Taraquá foi uma das gratas surpresas da viagem. Um dia ainda desço de caiaque o mesmo trecho do Uaupés que fizemos naquele dia de viagem, de barco a motor, entre as missões de Yauaratê e de Taraquá.

          Em tempo: Cupim também é uma palavra de origem tupi, um aportuguesamento do tupi Kopi´i.

                                                             Esch alinhavando o Cupim


O casco do Cupim já alinhavado e a quilha do Taraquá ao fundo

Cupim, o intrépido




11 comentários:

  1. É isso aí, os caiaques começam a ficar com cara de caiaques! A ansiedade é grande, mas é preciso calma para fazer um trabalho bem feito. Sobre a postagem, só uma pequena correção: tecnicamente, o casco é composto de quatro painéis; o quinto já faz parte do deck. Mas isso é um detalhe. Temos que programar onde será a primeira remada do Taraquá e do Cupim!!!

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    1. Correto! O quinto painel já faz parte do deck. A remada de estreia tem de ter champanhe, mas prá gente beber! Abç, Trieste

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  2. Legal, estou curioso para ver o fechamento deles! Vi tbem que fazem cicloturismo. Ja fiz algumas viagens, uma hora podemos marcar um chimarrao para conversarmos. Me parece que somos vizinhos, moro a tres quadras de vcs. Abc. Joao

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    1. Oi João. Vamos marcar um chimarrão aqui em casa sim, mas vamos esperar a volta do Esch de Caxias. Legal seria num fim de tarde, lá pelas 17h00. Abç.

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  3. Ola pessoal td bem?
    Queria saber onde adquiriram as plantas e se é mto caro.
    Um dia pretendo fazer um. Abraço!

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    1. Olá Vitor. Comprei as plantas (em tamanho real) pala internet, nos EUA. Custou U$ 110,00, mas ficou bem caro por causa dos impostos.

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  4. vou fazer um tb achei show parabéns.
    ja me encorajou a arriscar

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  5. Olá! Gostaria de saber como ficou o caiaque depois de pronto, vc postou fotos dele terminado?

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  6. Como faço para ter projeto obrigado

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